"Revista Abigraf" - Edição de jul/ago de 2001.
Capa e matéria | A arte regionalista de Jurandi Assis | Texto de Tânia Galluzzi


Apoiado no desenho e na composição, o artista reconstrói a vida simples e culturalmente rica do nordestino em meados do século passado, resgatando caras lembranças de sua infância.
As lavadeiras, o baile na roça, o bumba-meu-boi, os vaqueiros, o violeiro. Essas e muitas outras são as lembranças de Jurandi Assis, as quais com sensibilidade e muita cor transpõe para as telas, cheias do calor da ensolarada Bahia.
A pintura de Jurandi Assis, como descreve o crítico de arte Jacob Klintowitz no livro sobre o artista, reúne dois pólos.
De um lado é dionístico. O artista entrega-se totalmente às percepções, permite emergir as memórias, as alegrias e os cheiros que conheceu e ainda ama. É um homem voltado para o prazer da atividade e com o vigor de quem encontra na expressão os melhores momentos que conhece. Por outro lado, ele organiza geometricamente o espaço, cuida das passagens cromáticas e planeja com detalhes a visualidade da obra.
Nascido em 1939 em Santa Maria da Vitória, BA, o assunto da pintura de Jurandi Assis é a vida do interior brasileiro da primeira metade do século passado. É rural, interiorano, provinciano. Mais do que tudo isso, afirma o crítico e amigo pessoal do artista, é uma pintura que se refere a um modo simples de viver e existir. Não há dúvidas metafísicas nesta manifestação artística, mas o inventário do cotidiano. Os assuntos são os pássaros, o carnaval, a natividade, a pesca. Uma comunidade rural definida e estruturada para uma existência básica. Apesar de sua pintura não permitir o vazio e de seu caráter descritivo, ela é silenciosa, apoiada no desenho e na composição. Os personagens são perfeitamente delimitados e o espaço é severamente organizado.
Desta maneira, o artista indica ao seu público que o seu mundo é o do pensamento, do desejo, da imaginação, da memória idealizada. Nada está entregue ao acaso, tudo foi estudado à exaustão. Mesmo que o planejamento das obras, os estudos preparatórios,não sejam exaustivos, a vivência imaginativa da ficção é minuciosamente desenvolvida.
Jurandi descobriu o desenho aos sete anos, quando uma bordadeira a serviço de sua mãe deu-lhe alguns rabiscos para copiar. O suporte para tal tentativa foram as paredes da sala, que ficaram cobertas pelos riscos tortuosos do menino. Quando entrou para a escola já chegou com fama de desenhista, e o apoio das professoras, conta o artista, foi fundamental pára que ele se tornasse cada vez mais próximo dos lápis e do papel.

Da publicidade à pintura
Aos 17 anos, Jurandi decidiu partir para São Paulo a fim de viver a arte. Porém, a vida na cidade grande era infinitamente mais difícil do que ele imaginava e seu primeiro emprego foi como balconista em uma papelaria. 
Vendo na publicidade uma saída, sempre que podia mostrava seus desenhos para os clientes em busca de uma chance. E ela apareceu na figura de Oscar Costa, ilustrador, publicitário e artista plástico, que passou a receber Jurandi em seu estúdio, nos fins de tarde, permitindo que ele aprimorasse seus conhecimentos técnicos. 
Algum tempo depois, Oscar Costa foi convidado para trabalhar no departamento de arte da Avon, levando Jurandi consigo. 
Na empresa, o artista encontrou um ambiente favorável não só para desenvolver a linguagem publicitária como a pintura, uma vez que a companhia abria espaço para pequenas exposições. 
Foi numa dessas oportunidades que seu caminho como pintor deu uma guinada. 
"Um dia levei à Avon uma paisagem impressionista, que foi analisada e considerada boa pelos colegas do departamento. Um deles, contudo, disse que dentro daquela escola eu nunca me destacaria, aconselhando-me a desenvolver um estilo mais pessoal, no qual pudesse evidenciar os costumes e o folclore da minha terra natal. Fiquei chocado num primeiro momento, mas decidi apostar nessa direção, esquecer as referências e dar asas à minha imaginação".
Já fora da Avon, mas mantendo a atividade publicitária para seu sustento e a artística por vocação, Jurandi fez a sua primeira individual em 1974, na União Cultural Brasil Estados Unidos, com a apresentação do artista plástico Rebolo. A partir daí o caminho estava definitivamente aberto e diversas exposições se sucederam. A mais recente aconteceu entre junho e julho deste ano, na Casa da Fazenda, em São Paulo, com a apresentação de 24 telas.
Em 1996, o artista passou a dedicar-se apenas à pintura e à viabilização de mais um sonho, a edição de um livro autobiográfico.
Em setembro de 2000, o projeto foi concretizado com o lançamento da obra, Jurandi Assis, pintor:

"O Inventário do Cotidiano", com o ensaio crítico de Jacob Klintowitz e o projeto gráfico do próprio Jurandi, o livro foi fotolitado e impresso pela Laserprint, com tiragem de 1.500 exemplares, obra que já foi inclusive incorporada ao currículo de alguns colégios, como São Bento e o Visconde de Porto Seguro, de Valinhos, interior de São Paulo.
Jurandi se prepara, agora, para a edição de um segundo
livro. Vamos aguardar que vem novidades.

"Galeria em Tela"
Revistas - Edição Especial nº5 |   Editora On-Line 2003


Edição histórica, apresentando trabalhos de grandes artistas em exposição no Masp Centro, em São Paulo, faz uma homenagem ao Grupo dos 19, retratando o famoso movimento artístico de 1947. Uma oportunidade de conhecer arte unida à história. Dentro um encarte com desenhos de Jurandi Assis para serem exercitados.
Revista ABIGRAF
Edição n°220 - Ano Nov/2005

"Para muitas pessoas chegar aos 30 anos significa estar na melhor idade da vida inteira. Balzac que o diga. Mas, chegar aos 30 contando seculares histórias, isso já é mais difícil.
É tarefa para muitos poucos jovens, como a Revista Abigraf, por exemplo".
Ricardo Viveiros
Nesta edição Jurandi Assis é citado juntamente com 29 nomes relevantes da arte brasileira e estrangeira.



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